terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A espuma dos dias...




A espuma das ondas
que nos devolve o encanto dos dias passados,
que nos inebria com os aromas na memória perdidos,
que nos exalta os sentidos,
que nos faz viver e querer e, dormir...

Porquê ausente ...


Porquê ausente?
Não sei...
é a correria do tempo,
é a vida que se escapa,
é a mente que esvoaça e o corpo que se esvai.

É a tua presença que ofusca
ou a tua ausência que me cega?
A inspiração é ténue e ao correr da pena,
o desabafo na noite fria,
o lamento da minha nostalgia ...


Nessa tarde mimosa de saudade
Em que eu te vi partir, ó meu amor,
Levaste-me a minh'alma apaixonada
Nas folhas perfumadas duma flor.
E como a alma, dessa florzita,
Que é minha, por ti palpita amante!
Oh alma doce, pequenina e branca,
Conserva o teu perfume estonteante!
Quando fores velha, emurchecida e triste,
Recorda ao meu amor, com teu perfume
A paixão que deixou e qu'inda existe...
Ai, dize-lhe que se lembre dessa tarde,
Que venha aquecer-se ao brando lume
Dos meus olhos que morrem de saudade!
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"