domingo, 24 de agosto de 2008

Quando ouço ao telefone a voz que brinca


Quando ouço ao telefone a voz que brinca
e canta, sem saber, os dias novos,
pouco me importam tempo, espaço, luas,
ou maneiras sequer de ser humano.

Vagueio pelo ar, e arranco estrelas
ao cenário sem fim do universo;
e faço pobres contas aos cabelos
depenados no chão, verso após verso.

Nada é real, senão o meu desejo,
nem sei de lei nenhuma que não dobre
a dura mansidão da tua boca;
inventou-nos um deus, para que seja
veloz o lume na manhã sem nome,
e chama viva a voz que nos consome

(António Franco Alexandre)

4 comentários:

João Roque disse...

Parece que com estes dois poemas seguidos me estás a desnudar o coração: primeiro, o sorriso que uma webcâmara transmite; agora a voz repetida várias vezes diariamente nos nossos telemóveis, como um canto lindo...

Anônimo disse...

não conhecia o poema nem o poeta. gostei!

Vagamundo disse...

Creio que breve, pelo que me tenho dado conta pelas tuas notícias, a poesia se transfomará em realidade!
Como eu te entendo...
Um abraço

Vagamundo disse...

Violeta:
De facto o nem o poema nem o poeta são também meus conhecidos. O texto vem publicado na antologia 366 de Poemas que Falam de Amor, do Vasco Graça Moura. Obrigado